“O vinho conforta ao triste, e revive aos velhos, inspira os jovens, permite que o cansado esqueça o seu cansaço.” Lord Byron
Introdução
Olá Amigos, hoje o nosso blog está especial porque estamos em dois países diferentes degustando o que eles possuem de melhor: carne. É praticamente impossível irmos à Argentina e ao Uruguai sem nos deliciarmos com suas carnes maravilhosas. Falaremos também nesse post sobre o porquê desses países possuírem uma altíssima qualidade de carnes e sobre como harmonizá-las com os melhores vinhos disponíveis nesses países.
Raças de bovinos
É certo que existem centenas de raças diferentes de bois, porém quando pensamos em bovinos produtores de carne, são três as mais famosas: Nelore, Angus e Wagyu. A diferença principal entre elas é o nível de marmoreio que a gordura cria entre suas fibras.
Nelore
Boi predominante no Brasil sendo originado da Índia e raça reconhecida por sua alta resistência a condições adversas e pelo seu alto rendimento de produção de carne. Baixo nível de marmoreio da gordura. Corresponde a 80% do gado de corte brasileiro.
Angus
Boi de origem escocesa e representa de forma massiva a raça de corte da Argentina e do Uruguai. No Brasil é a segunda raça mais cultivada e segue-se atrás do Nelore. Possui nível de marmoreio médio e sua carne no Brasil custa algo em torno de 30% a mais do que o Nelore.
Wagyu
Boi de origem japonesa que chegou no Brasil há pouco mais de 20 anos e ainda possui poucas cabeças dele no país. Ele representa o que chamamos de Rolls-Royce do mundo das carnes. Seu altíssimo nível de marmoreio da gordura entre as fibras o torna uma iguaria tão rica quanto o caviar beluga ou o foie gras. Sua carne também é tão cara quanto, chegando a custar duas ou três vezes mais do que o Angus. Falaremos mais sobre ele num futuro post.
Comparação entre as três raças
Abaixo podemos ver a diferença no marmoreio da gordura entre elas:
Cortes do contra-filet: ojo de bife, bife de ancho, bife de chorizo e o l’entrecôte
Quando pensamos em churrasco no Brasil a primeira coisa que nos lembramos é da famosa picanha. Infelizmente esse corte é pouco conhecido no mundo, sendo muito mais valorizado os cortes advindos do contra-filet. Abaixo temos um mapa mostrando onde fica localizado cada corte do boi:

Vou também deixar aqui o link para um vídeo fantástico do lendário e saudoso Marcos Bassi ensinando como obter cada um dos cortes do contra-filet partindo de uma peça inteira:
https://www.youtube.com/watch?v=dFtpFtrZ1DM
Argentina
Tendo introduzido todas essas informações, é possível entendermos o porquê do sabor inigualável das carnes encontradas nesse país: a raça angus. Esse é o país do alfajor, das empanadas, do tango, do doce de leite, mas principalmente do vinho malbec e do bife de chorizo angus. Sabendo disso iremos visitar uma das casas mais badaladas da cidade que é, em si própria, um ponto turístico da cidade de Buenos Aires: A Cabaña Las Lilas.
Cabaña Las Lilas
Localizada no famoso bairro de Puerto Madeiro é, talvez, a melhor casa de carnes da cidade localizada de frente para o rio da prata. A idéia original foi provar um bife de Wagyu mas seu preço proibitivo nos tolheu a vontade: ~R$ 350.
Já falamos várias vezes aqui sobre a superioridade dos malbec argentinos (link) e sobre a lendária bodega do Catena Zapata, então nada melhor do que iniciarmos nossa noite com ela: DV Catena Malbec 2015.
Vinho muito agradável e frutado detentor de uma cor roxa belíssima ao passo que podemos sentir bem a potência dos seus taninos. Decidimos iniciar nossa noite com ele e com um dos símbolos da Argentina: as empanadas.
Na hora de escolhermos qual seria a carne, decidimos optar pela escolha dos dois cortes carros-chefes da casa: o ojo de bife e o bife de chorizo.
Pedimos ao ponto para menos:
De tão macio que estava ele desmanchava na boca e harmonizou perfeitamente com o vinho de escolha!
Como segundo vinho, decidimos pedir sugestão do sommelier da casa. Ele nos sugeriu um que o consideramos ainda superior ao primeiro: Luigi Bosca 2016 Malbec, Petit Verdot e Tannat.
Acredito que essa “melhoria” em relação ao vinho anterior seja devida ao corte com a petit verdot. Esse corte trás a fruta presente tanto na Malbec quanto na Tannat e também a suavização dos taninos produzidas pela petit verdot. Um grande vinho!
Para terminarmos a noite decidimos por mais um malbec um pouco mais simples do que os anteriores: Viña Alicia Paso de Piedra 2014. Como sempre falamos anteriormente, escolher um malbec argentino é certeza do sucesso e esse não foi diferente. Esse apresentou aromas menos complexos do que os outros apenas com a pimenta do reino se destacando e taninos um pouco mais agressivos!
Señor Tango
Outro lugar imperdível que deve ser visitado em Buenos Aires é o show de tango mais clássico da cidade: o Señor Tango. Ele possui não apenas um show espetacular como também um jantar maravilhoso!
Antes do início do show, pudemos aproveitar um belo jantar acompanhado de um vinho da casa: Finca Las Moras Malbec 2016.
Um vinho agradável porém muito mais simples do que todos os anteriormente citados: bastante jovem com taninos pouco trabalhados e aparenta não passar por estágio na barrica de carvalho. O primeiro prato é uma panqueca de espinafre:
Junto com o prato principal eu decidi pedir uma das jóias argentinas, um vinho o qual já pairava pelos meus pensamentos há um bom tempo: Angélica Zapata 2014 Malbec.
Esse vinho lendário foi uma homenagem do próprio Nicolas Zapata à sua filha Angélica. Possui um preço proibitivo no Brasil (cerca de R$300) mas estava sendo vendido na casa por incríveis R$120.
Vinho bastante frutado e diferentemente dos outros malbec, possui taninos burilados e se apresenta bastante redondo na boca. Um espetáculo de vinho que acompanhou perfeitamente o bife de chorizo.
Como sobremesa tivemos um doce muito parecido com um tiramisù porém sem a camada de café. Para acompanhar com ele pedimos uma dose de Jerez. Depois farei no blog um post exclusivo sobre essa bebida pois ela em si apresenta variados estilos, porém, em suma, posso dizer que ela é o equivalente do vinho do porto espanhol com outras uvas como a Palomino e a Pedro Ximenes por exemplo.
Visita à Montevideo
Amigos, como já falei anteriormente no nosso blog (link), a uva tannat no Uruguay é uma referência de simplesmente melhor do mundo e, assim como na Argentina, boa parte do gado uruguaio consiste em bovinos da raça Angus. Então iremos degustar aqui um bom bife de chorizo junto com um bom vinho uruguaio. Conversando com especialistas da região, consegui descobrir que a bodega de destaque no país é a Bouza.
Por isso que iremos escolher um vinho dessa vinícola para degustarmos num restaurante famoso da cidade: El Fogón.
Bouza tannat 2017
Vinho muitíssimo gostoso e agradável apesar de tânico. O seu roxo intenso só não é ofuscado pela suas lágrimas intensas. Uma grande experiência gastronômica!
Como entrada foi servida uma salada caprese e como prato principal temos o lendário bife de chorizo uruguaio:
E como sobremesa foi nos servido o típico pudim uruguaio:
Conclusão
Amigos, se forem visitar a Argentina, imploro que degustem seus maravilhosos Malbec assim como se forem ao Uruguai provem seus Tannats lendários. Que experiência única!
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