“Tenha cuidado de confiar em uma pessoa que não gosta de vinho.” Karl Marx
Amigos, depois de bastante tempo sem escrevermos o blog, hoje é o dia de falarmos da Romênia, esse país tão famoso por nós pela história do Conde Drácula. Falaremos também da famosa bebida Calvados, o cognac de maçã, e de mais dois vinhos maravilhosos: alma negra mistério e Casa Valduga Gran Reserva Villa-Lobos Cabernet Sauvignon. A harmonização será feita em duas churrascarias perfeitas de São Paulo: Barbacoa e NB Steak.
Breve História da Romênia e do Drácula
Porque a figura do Drácula é tão importante quando pensamos em vinho na Romênia? Simples, basta lembrar que o vinho só chegou até nós por causa do cristianismo. E como um país europeu minúsculo como a Romênia conseguiu impedir o avanço muçulmano do império Otomano? Simples novamente, por causa dessa figura tão ímpar na história.
Vlad III Drácula, mais conhecido pela sua alcunha de Vlad “Tepes” (o impalador) foi o soberano da Wallachia (sub-região da Romênia, ou Transilvânia) durante 1448 até 1477. Seu nome era Drácula porque a família do seu pai descendia da ordem do Dragão ou Drácula. E ele era muitíssimo famoso pelos seus atos de crueldade. Qualquer crime, por mínimo que fosse, era punível com empalamento (uma estaca era fincada no ânus de uma pessoa e saía pela boca, permanecendo assim por vários dias antes de morrer).
Tepes possuía um profundo prazer nessa prática pois fazia questão de todos os dias comer os órgãos de suas vítimas e beber o sangue delas enquanto vislumbrava a cena de várias pessoas empaladas e sofrendo.
Numa certa vez, mandou destruir uma floresta inteira só para poder empalar milhares de turcos-otomanos. Quando o Sultão Mehmed II entrou com suas tropas para invadir o país, suas tropas ficaram tão assustadas com essa cena que decidiram cancelar a invasão. Tudo indica que suas crueldades foram a causa de sua morte. Reza a lenda que Radu (seu irmão de sangue) e outros nobres romenos tramaram um atentado à sua vida junto com o sultão otomano. Depois de morto e decapitado, foi enterrado mas depois que abriram sua tumba não encontraram seu corpo lá. Isso deu origem à lenda que ele está vivo até hoje!
Bram Stoker e os Vampiros
Abraham “Bram” Stoker (Dublin, 8 de Novembro de 1847 — Londres, 20 de Abril de 1912) foi um romancista, poeta e contista irlandês, mais conhecido atualmente por seu romance gótico Drácula. Podemos afirmar que ele foi uma versão em menor escala de William Shakespeare da era vitoriana. Ele era um grande fã dos folclores medievais europeus e escreveu vários contos e peças de teatro sobre eles, sendo o Drácula o mais famoso de todos. O mais interessante é que ele nunca visitou nenhum país da Europa Oriental!
O Bram Stoker foi um compilador dos mitos já existentes sobre vampiros e bebeu dos romances góticos e do romantismo vitoriano que imperava no século 19. Nessa época eram moda as histórias macabras e horripilantes como o Frankenstein, por exemplo. Talvez a genialidade dele tenha sido trazer os antigos mitos para o novo e moderno. Na história, o Drácula romeno antigo e arcaico vai desfrutar da vida na cidade referência para o mundo da época: Londres. Gostaria de deixar aqui um link para um canal que eu amo da nossa amada Isabella Lubrano: Ler antes de Morrer.
https://www.youtube.com/watch?v=QUN17zKPUtQ
Nesse vídeo ela faz um review desse livro como ninguém. Nota 10!
Dos Vampiros ao Apocalipse Zumbi
Tudo indica que foi Zaratustra o primeiro a falar sobre a escatologia e o juízo final.
Esse filósofo persa foi o criador da ideia de que haveria um juízo final e o fim do mundo. Vários livros da Bíblia como Zacarias e Daniel trazem elementos de que um dia o mundo seria julgado por Deus (livros esses produzidos durante o cativeiro babilônico de Israel). Posteriormente temos as palavras de Jesus e o livro das revelações de João (Apocalipse).
Influenciado por essa perspectiva escatológica e pela obra de Bram Stoker, o escritor Richard Matheson escreve em 1954 o livro Eu sou a lenda (I am legend).
O mesmo vai ser retratado em 3 grandes filmes:
1-The Last Man on Earth (1964)
2-The Omega Man 1971 (Com Charlton Heston)
3-I am Legend 2007 (com Will Smith)
No livro, A humanidade inteira é afetada por uma doença que transforma todos em vampiros com exceção de um único homem: o Dr. Coronel do Exército Robert Neville. O mesmo passa a trabalhar incansavelmente por anos de forma a descobrir a cura para essa doença, o que o faz descobri-la pelo seu próprio sangue. O mesmo acaba se sacrificando para que a humanidade toda seja salva. Esse roteiro influenciou bastante a lenda dos filmes de terror modernos: George Romero.
Em 1968 ele idealiza essa história apocalíptica com a humanidade toda se transformando em zumbis canibais ao invés de vampiros no famoso filme “A noite dos mortos-vivos (Night of the living dead)”
A partir daí a lenda surge e se amplifica até aos dias atuais com centenas de obras como Resident Evil ou The Walking Dead como exemplos.
Feteasca Neagra e o Barbacoa
Após toda essa introdução histórica, iremos degustar nosso vinho romeno feito com a uva feteasca neagra numa famosíssima churrascaria de São Paulo: Barbacoa.
Prahova Valley Special Reserve Feteasca Neagra 2016.
Abaixo temos o mapa da Romênia:
O Prahova Valley Special Reserve Feteasca Neagra 2016 possui Indicação Geográfica Colinele Doborogei (Colinas de Dobruja/Dobrogea), que consiste na região da foz do rio Danúbio, quando ele encontra o Mar Negro. Região com poucas chuvas e muita insolação, tem clima determinado pela influência do Mar Negro, que diminui as amplitudes térmicas, amenizando o calor do verão.
O Barbacoa é mais do que apenas um restaurante, ele é uma franquia presente em vários lugares do mundo, inclusive no Japão, Itália e EUA. Com exceção dos cortes como o Cupim que não existe no Angus, todas as suas carnes são feitas com esse tipo de boi. Os carneiros são criados no Chile e a qualidade de tudo é primeira linha. Além de tudo ela também está incluída no guia Michelin.
A entradinha deles é sensacional e os molhos da casa são de cair o queixo!
O pastelzinho de carne com o molho barbecue da casa é simplesmente o melhor que eu já comi na vida! Muito top!
O vinho dessa uva me lembrou muito os da uva pinot noir: pouco tânicos, aromas de frutas vermelhas como o morango e a amora, com acidez levemente acentuada. É um vinho simples quando comparado aos grandes nomes como Gran Bordeaux, Brunello di Montalcino, etc. Porém o conhecimento de poder degustar um vinho da terra do Drácula valeu por tudo.
O buffet deles é sensacional contendo ovas de caviar, atum, salmão defumado, polvo, presunto serrano laminado na hora e muito mais! Além disso, a coisa mais bacana que eu vi até agora em uma churrascaria foi um guia de cortes de carnes em inglês e português:
A seleção de carnes é fantástica. Comecemos com a costeleta de javali:
Junto com ela temos uma geléia de amora que a deixa divina:
O cordeiro feito pela casa é simplesmente excepcional. Não há palavras para descrever melhor. Mas o mais perfeito é o molho de hortelã da casa para acompanhar esses cortes. Nunca vi uma churrascaria para fazer molhos tão bem (barbecue, chimi-churri, molho de hortelã, etc)
E o meu corte preferido desse animal: o T-bone de cordeiro!
E muitos outros cortes como a paleta de cordeiro, a costeleta de cordeiro, a costela premium, a picanha nobre, o cupim, etc. Todos maravilhosos, parece que eu estou no céu nesse lugar!
A harmonização com o vinho foi muito boa, pois a carne de cordeiro é mais magra e caiu bem com o baixo nível de taninos do vinho!
Calvados père magloire
Amigos, já comentei aqui no blog que eu não sou um grande apreciador das bebidas destiladas com exceção do cognac. Esse destilado do vinho realmente me fascina! Hoje iremos apresentar aqui no blog outra bebida destilada muito famosa da França: o Calvados. Ele vai receber esse nome por ser feito numa sub-região da Normandia homônima.
Enquanto o Cognac é um destilado do vinho feito na região de cognac, o Calvados é uma espécie de Cognac feito de sidra (vinho de maçã) ao invés de vinho.
Como é uma bebida destilada, ela preserva pouco suas características originais em relação às fermentadas, mas é possível percebermos aromas deliciosos de maçã nele. Um espetáculo de sabores!
NB Steak: Alma Negra Mistério e Casa Valduga Villa-Lobos
Amigos, outra churrascaria que também faz parte do guia Michelin e eleita por vários anos seguidos como o melhor rodízio de carnes do Brasil é a NB Steak. Portanto decidimos comprovar se ela é melhor do que o estupendo Barbacoa. Para isso levei um vinho ícone que ganhei de aniversário: Alma Negra mistério 2016.
Alma Negra significa literalmente “alma escura” e representa as profundezas da beleza nas sombras de nossas almas. E esse nome é uma verdadeira brincadeira com a realidade pois a premissa dele é que ninguém sabe de quais uvas ele é feito ou com qual proporção, apesar dos críticos dizerem que é um corte de Malbec com Bonarda. Acima de tudo ele é um legítimo Catena Zapata, nome o qual dispensa apresentações!
O bouquet dele é exuberante e exótico apresentando aromas fortes de compotas de frutas negras e vermelhas, enquanto no palato mostra-se macio e intenso. Taninos presentes porém amaciados. Precisa de um tempo para abrir. Um grande vinho!
O NB é um pouco diferente das outras churrascarias porque ela não possui buffet, porém há um cardápio onde se pode requisitar várias saladas antes do menu degustação iniciar.
Esse é simplesmente o melhor galeto que já comi na vida. Extremamente macio e muito bem temperado. Me dá água na boca ao recordar dessa cena!
A pescada branca com o salmão na brasa vêm acompanhados de dois molhos sensacionais: alcaparras e limão siciliano. É maravilhoso!
Aqui temos o vazio (ou fraldinha)
O bife de chorizo com molho de vinho é indescritível!
Não podia faltar a clássica picanha!
Agora vem a melhor parte: o cordeiro. Não me recordo de ter comido um cordeiro mais gostoso do que esse em outro lugar. Conseguiu ganhar até do barbacoa. É tão bom que eu não consigo encontrar palavras para descrever!
Pedimos também uma sobremesa clássica com um acompanhamento clássico: pudim de leite condensado com baileys.
Esse foi o melhor pudim da minha vida! Marcante demais!
Numa segunda oportunidade eu pude degustar um dos primeiros vinhos com classificação Gran Reserva Brasileiro: Casa Valduga Villa-Lobos Cabernet-Sauvignon 2011.
Esse vinho foi escolhido para homenagear o maior compositor das Américas: Heitor Villa-Lobos (autor de mais de 1000 obras).
Esse vinho me trouxe uma sensação de muita felicidade e muita tristeza ao mesmo tempo. Feliz por saber que o Brasil já possui um nível alto de excelência na produção vinícola, porém com preços proibitivos. Esse é um vinho que custa quase R$200 e possui uma qualidade ainda inferior a um Marquês de Casa Concha chileno (R$120), por exemplo. Mas é um vinho bem feito que necessita de tempo para abrir. Seu único defeito é apresentar um final intenso porém com um leve toque de amargor. Recomendo-o com empenho!
O NB possui seu cardápio padrão porém, de tempos em tempos, apresenta algumas novidades sazonais. Dessa vez tive a oportunidade de provar o melhor leitão com molho de mostarda da minha vida. Extremamente macio que desmanchava na boca:
Provei também um ótimo palmito pupunha:
A paleta de cordeiro com molho de hortelã:
A costeleta de cordeiro:
E novamente aquele bife de chorizo com o melhor molho de vinho da minha vida!
Novamente o vinho caiu muito bem com essas carnes!
Já tínhamos provado o melhor pudim de leite condensado das nossas vidas, então hoje também seria um dia para fecharmos nossa jornada maravilhosa em grande estilo. Como estamos homenageando o Brasil, nada melhor do que uma cocada com raspas de semente de cumaru.
Para acompanhar esse prato precisamos da referência canônica dos vinhos de sobremesa: o vinho porto. Ele é a opção quando você quer ter a certeza que não irá errar. Dessa vez provaremos um envelhecido por 20 anos: graham’s tawny port 20.
Conclusão
Se existem outras churrascarias em São Paulo melhores do que essas duas eu desconheço. Para mim a NB steak ganhou no quesito qualidade mas perdeu para a Barbacoa no quesito variedade. São duas grandes opções principalmente se você quiser provar um vinho da Romênia. Até mais meus amigos!
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