Zinfandel, Primitivo e Costelinha do Outback

“O vinho é prova constante de que Deus nos ama e nos deseja ver felizes”- Benjamin Franklin

Embora existam mais de 5000 espécies catalogadas de uvas viníferas (Vitis Vinifera), é fato claro que todo apreciador de vinhos possui a sua uva preferida. E comigo não é diferente, pois a uva tinta que mais aprecio é a Primitivo, a qual é muito famosa na Itália.

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Mas o post atual será para falarmos sobre sua versão americana: a Zinfandel.

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Durante muito tempo acreditou-se que elas eram uvas distintas, mas testes demonstraram tratar-se da mesma uva. Porém, como já falei nos posts anteriores, uma Malbec na França não produz o mesmo vinho que uma Malbec na Argentina e assim é com a Zinfandel e a Primitivo: ambas produzem vinhos espetaculares porém com características únicas.

Breve história da viticultura americana

A história da viticultura americana tem início na era da corrida do ouro, onde vários imigrantes foram em busca do metal precioso e, com eles, trouxeram diversas uvas. Ninguém sabe ao certo como e quando a zinfandel chegou aos EUA, mas acredita-se que foi nesta época. Tudo ia às mil maravilhas até os EUA estabelecerem a lei seca (1920 a 1933) proibindo qualquer tipo de bebida alcóolica no país. Foi aí que todas as vinícolas foram destruídas.

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Foi nesta época que surgiu um dos primeiros gangsters da história do mundo e o maior da história americana: Al Capone. Muito antes de Pablo Escobar e El Chapo, ele foi o responsável por contrabandear álcool para os EUA e chefiar a maior quadrilha já conhecida para a época até ser preso acusado de sonegar imposto de renda por vários anos.

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Quando a lei seca é derrubada, lentamente a cultura vinícola volta a renascer a passos muito lentos e isso persiste até a década de 60 com a participação de um homem: Robert Mondavi.

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Esse é aquele que pode ser considerado como o Steve Jobs do mundo do vinho, pois poucas personalidades no mundo foram tão expressivas quanto ele! Robert Mondavi começou no mundo do vinho na empresa da família, com o pai e o irmão. Assim como todos os produtores norte-americanos da época, o foco era na produção de vinhos de garrafão, de baixa qualidade. Após uma viagem pela Europa visitando vinícolas, ele voltou para casa decidido a transformar a produção da família com o seguinte bordão: “Vou produzir um vinho com uma qualidade tão absurda que irá derrotar todos os franceses!”, algo impensável na Napa Valley dos anos 1960. As diferenças de objetivo levaram a um racha com a família, e Robert Mondavi abriu sua própria empresa em 1966, quando ele tinha 53 anos de idade.

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Abaixo temos imagens da primeira safra:

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1976 é o ano mais importante da vinicultura americana pois foi quando houve o julgamento de paris (The Paris Wine Tasting of 1976; vale a pena conferir o filme que está no netflix bottle shock), que foi uma competição organizada em Paris em que apenas alguns dos maiores sommeliers franceses participaram de um teste cego organizado entre vinhos franceses e americanos. Pela primeira vez em toda a história do mundo os vinhos americanos tiraram em primeiro lugar, tanto na categoria de brancos quanto na de tintos, quebrando assim o dito de que apenas na França se produzia bons vinhos e tornando assim Robert Mondavi uma lenda viva. Imagine que a França produz vinhos há pelo menos 1000 anos com milhares de grandes produtores e um único homem em apenas 16 anos derruba um império desses. Essa lenda se chamava Robert Mondavi! Abaixo segue a foto dos vinhos vencedores:

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Desde então, os EUA (especificamente o Napa Valley) tem produzido vinhos tão bons ou até melhores do que os Europeus. E embora se produza boa parte das uvas conhecidas (chardonnay, cabernet-sauvignon, shyraz, etc) com a mesma qualidade, a uva que mais se destaca é a Zinfandel (e ainda mais especificamente os vinhos rosés dela: White Zinfandel).

Características da Zinfandel

O fato de ser minha uva preferida diz respeito a uma característica única da primitivo/zinfandel: equilíbrio. Nenhuma outra uva produz um vinho tão equilibrado quanto essa uva. Tem cor rubi violácea, com um aroma que apresenta certa dose de frutas negras bem maduras (principalmente cerejas negras(cassis), morango e ameixas) e especiarias doces, escoltadas por um mentolado remetendo a cânfora. Na boca, é macio, com bom volume, e nada se destaca, nem acidez, nem taninos, nem álcool. Tudo equilibrado e sem chamar atenção.H2DH‡ôÈ §KP

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Algo muito presente nos vinhos americanos é o aroma característico de baunilha devido ao barril de carvalho americano:

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Harmonização

A uva primitivo é uma uva bem “coringa” devido ao seu equilíbrio de sabores então ela combina com vários tipos de pratos diferentes, mas nenhum deles casou tão bem quanto a famosa costelinha do outback, por isso a escolha será ela.

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Com aproximadamente 1,5kg de costela, tempera-se aproximadamente com:

  1. 1 colher de sopa de sal
  2. 1 colher de sopa de cebola desidratada
  3. 1 colher de sopa de alho desidratado
  4. 1 colher de sopa de páprica
  5. 1 colher de açúcar mascavo
  6. 1 colher de sopa de pimenta do reino
  7. Pimenta tabasco

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Após temperada, devemos envolvê-la com aquele tipo de plástico específico para churrasco e levar para a churrasqueira a 50 cm da brasa por aproximadamente duas horas:

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Apéritif

Nos países europeus (principalmente a França) é muito comum antes da bebida e do prato principal ser servido um aperitivo (apéritif) como forma de “abrir” o apetite para o prato principal, que pode ser ou uma cerveja ou um vinho branco. Nesse caso iremos de cerveja patagônia com salame espanhol:

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Vinho de escolha: Robert Mondavi Zinfandel Private Selection

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A linha Private Selection foi criada em 1994 e, apesar do nome, esta linha visou o mercado popular premium, isto é, vinhos com preços mais acessíveis, com foco em consumidores que não estavam dispostos a pagar dezenas ou centenas de dólares por um vinho. É mais ou menos o que o Tommy Hilfiger se propôs: fazer uma roupa de luxo com preço popular!

Após as duas horas na churrasqueira, devemos retirar o plástico, pincelar com molho barbecue e retornar à churrasqueira por mais 30 minutos. Depois disso está pronto:

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Ficou muito gostoso e macio:

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O vinho é realmente um espetáculo: poucas vezes vi um vinho tão aromático como esse. Aromas adocicados de frutas vermelhas (cereja negra, morango e ameixas) com um toque de baunilha torna-o bem redondo e pronto para beber. Vinho extremamente agradável na boca: macio, sem taninos fortes, sem acidez forte. Nota: 10. Recomendo com empenho!!!

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Digestif

Assim como o apéritif, após as refeições principais pode ser servido um licor ou um vinho do porto ou, como é costume na cidade de Cognac ou região de Bordeaux: servir um Cognac. O Cognac é uma bebida destilada de vinho e armazenada em barris de carvalho por pelo menos 5 anos. Vale ressaltar que só pode ser chamado de Cognac a bebida que é produzida nessa região, todas as outras são chamadas de Brandy. No nosso caso iremos de Brandy espanhol: Osborne.

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